Encontre aqui a receita de Filipe Vargas. Na televisão, ficou conhecido pelas personagens de “Conta-me como foi”, “Bem-vindos a Beirais” e “Sol de inverno”. No cinema, já trabalhou com alguns dos mais conceituados realizadores, do mestre Manoel de Oliveira aos mais jovens João Nicolau e Gabriel Abrantes. Recentemente, foi o Vilaça de “Os Maias” de João Botelho e, em setembro, volta aos ecrãs da televisão com a nova novela da SIC, “Coração d’Ouro”. Passou a manhã no mercado às compras para nos levar numa viagem aos sabores do Sul. Traz-nos polvo da Costa Vicentina, ostras da Ria Formosa, batata-doce de Aljezur e figos do Algarve para a sobremesa. Gosta de fazer as compras no Mercado da Ribeira. Na Rosanamar compra o peixe e, para a fruta e legumes, vai à Celeste e à loja da Herdade do Freixo do Meio. O polvo com batata-doce que cozinhou para nós é um dos pratos que os amigos mais lhe pedem. Antes de o começar a preparar, trata do mimo que trouxe para a entrada. Com destreza, abre as ostras e serve-as com sumo de limão. O mote está dado para começar a cozinhar. Filipe Vargas cozinha o polvo como o ensinaram uns pescadores da Costa Vicentina. «Agarras no polvo fresco e pões dentro de um tacho em lume muito baixo. Sem água, nem sal, nada, vai cozer na própria água.» É das Caldas da Rainha e o hábito de fazer compras no mercado vem-lhe dos pais. Quando começou a viver sozinho, começou a desenrascar-se. Mas uma viagem à Índia e ao Nepal, em 2000, mudou a sua perceção de cozinhar. Foi uma experiência de vida e sabores e fê-lo evoluir para uma cozinha cada vez mais saudável. «Não faço muitos fritos, nem refogados, cozinho muito ao vapor. Quando tens o hábito de comprar em mercados, tens sempre boa matéria-prima. Acho que quando as pessoas cozinham todos os dias, têm de arranjar estratégias para conseguirem fazer comida saudável e rápida e não caírem na tentação da comida processada.» Mesmo quando está nas gravações das telenovelas e tem de comer na cantina, tenta fazer as melhores escolhas. E sublinha que tudo isto não é uma questão de dieta, é uma questão de ser saudável. «Como pão com manteiga como quem come caviar, só de vez em quando. Não quer dizer que não adore, mas não é o mais saudável. Mas abro uma exceção se for ao Alentejo e tiver um bom pão e uma manteiga dos Açores.» Acha que as pessoas têm de começar a ter essa consciência e tem de haver uma renovação nos hábitos alimentares, porque os pratos populares, como o cozido e a feijoada, não podem ser comidos diariamente pois não são adequados ao estilo de vida que temos. Para Filipe Vargas, a comida é também uma ótima porta de entrada para conhecer outras culturas e uma das primeiras coisas em que se repara quando se viaja. Recorda uma viagem que fez a Marrocos, em que ficou com amigos numa casa em que todos os dias uma cozinheira cozinhava para o grupo. «Era extraordinária. Todos os dias era uma surpresa. Foi uma das melhores experiências gastronómicas da minha vida.» Mas nem sempre as surpresas foram boas. Conta a rir que um dia, no regresso de Tânger, pediram à cozinheira para fazer um prato rápido. Ela fez uns “revueltos com criadillas” que lhe estavam a saber maravilhosamente bem até perceber que “criadillas” são testículos. «Aí o meu estômago congelou, devo ter bebido um litro de chá de hortelã para ver se passava. Estava a adorar, mas assim que soube o que era…» De Espanha, de quando estudou em Madrid, no conceituado Estudio Corazza, ficou-lhe o salmorejo. «Os espanhóis inventaram a melhor coisa do mundo, uma espécie de gaspacho mais compacto que podes comer com pedaços de ovo ou jamon. Já fiz e correu bem.» É fiel aos restaurantes de que gosta e com os quais cria uma ligação emocional: a Taberna da Rua das Flores, a Camponesa, a Tasca Kome, a Cevicheria. «A Cevicheria é um restaurante quase perfeito. A comida é maravilhosa, os ingredientes são de primeira qualidade, os empregados são a coisa mais simpática do mundo, o sítio é super bonito. Já lá devo ter ido umas dez vezes.» Também gosta do Sem Maneiras, afirma que o Casanostra é um ótimo restaurante, sempre foi e há de ser e, sempre que vai ao Porto, vai ao Reitoria. Mas depois aparecem novos sítios e, quando há algum que o surpreende, junta-o à lista dos seus sítios de eleição. Não liga muito a chefes, no entanto, reconhece que quando alguém tem um talento extraordinário, isso o toca e dá o exemplo do restaurante Boi-Cavalo: «A comida é muito original e com um estilo muito próprio.» Emprata bem, mesmo quando cozinha só para si, e suspira enquanto prova o prato. Diz que o mais importante para cozinhar bem é gostar de comer. E nós comprovamos!
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